A cidade medieval intra-muros é o arquétipo urbanístico de uma clara segregação entre o humano e ‘a natureza’, o cosmificado e o selvagem, a segurança e o perigo, um paradigma que ainda hoje encontramos nos espaços que habitamos. Nas cidades da Europa, o contacto com a natureza sob a forma de um jardim foi durante muitos séculos um privilégio de religiosos e nobres. Apenas a partir do séc. XIX a natureza começa a ser incluída no espaço público sob a forma de parques, passeios públicos, e ruas arborizadas, coincidindo com o aparecimento da figura do arquitecto paisagista.
A necessidade higiénica e psicológica de lidar com os efeitos perniciosos do desenvolvimento industrial é uma das motivações da ideia de integrar a natureza na organização da cidade, desenvolvida pela Cidade-Jardim de Howard e mais tarde pelos principios ‘verdes’ da Carta de Atenas . Com o modernismo emerge uma tradição funcionalista que domina a maior parte do planeamento urbano do séc. XX, no qual a natureza (e a relação entre ecossistemas) é reduzida a uma vegetação domada, que serve convenientemente as necessidades humanas. A lógica da cidade modernista é inequivocamente antropocêntrica: «O primeiro dever do urbanismo é pôr-se de acordo com as necessidades fundamentais dos homens.» (CIAM, 1933).
A década de 80 e 90 do séc. XX é marcada pela desvinculação de vários arquitectos paisagistas da lógica modernista, como Martha Schwartz, Peter Walker e Michael Van Valkenurgh. Anuncia-se assim uma mudança de paradigma para um ‘urbanismo paisagista’ que procura integrar urbanismo, infrestrutura e paisagem.