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Oculus micorrhyzum



Ao longo da História da Arte os dispositivos de representação tenderam a favorecer um olhar antropocêntrico sobre outras espécies, baseado na experiência óptica humana. Contudo, nos últimos anos temos vindo a assistir a novas perspectivas estéticas, a par de novas concepções ecológicas, conscientes da inter-relação, complexidade e “inteligência” das entidades naturais. Hoje sabemos que as espécies de árvores da floresta se interconectam, formando uma “Wood Wide Web”[1]. Esta rede promove trocas de elementos como carbono, a partir de uma internet de fungos que liga as raízes de plantas, numa relação simbiótica denominada micorrhyzum.


Oculus micorrhyzum é numa instalação site specific, que pretende colocar o espectador/interactor em contacto com uma experiência das redes simbióticas que ocorrem no solo da mata. A obra materializa-se numa peça circular com 2m de diâmetro instalada verticalmente sobre o solo, no interior da qual emerge a representação de uma estrutura rizomática. Esta representação é um labirinto translúcido no qual habita uma cultura de fungos e bactérias, montada a partir de elementos do solo da mata e outros elementos orgânicos.


[1] Termo que designa as redes subterrâneas de fungos, bactérias e microoganismos que conectam árvores e plantas na floresta.



A forma circular da estrutura remete para um comentário aos dispositivos ópticos do olho e da lente, ao mesmo tempo que evoca o imaginário das placas de Petri, usadas em culturas de laboratório. A peça funciona como uma espécie de ecrã vivo que proporciona uma visibilidade ficcionada do que se esconde no subsolo. Contudo, é também possível descobrir, através do toque, o desenho do rizoma em baixo relevo, numa das faces da peça, conferindo ao oculus uma dimensão háptica. A instalação pretende ainda abrir um espaço de reflexão sobre a natureza da arte pública, habitualmente concebida por e para humanos, através do confronto com um processo co-criativo intersepécies. O nome científico ficcionado atribui ao objecto o estatuto de ser vivo.






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